Irene
Sinopse
Escrito no início da década de 50, por Pedro Bloch, a trama gira em torno da jovem e inocente Irene, que saída de um Colégio de freiras, nada sabe do mundo. A conservadora avó, Deolinda, aflita e com medo que a neta “se perca”, busca por ajuda; o amigo vanguardista, Rocha é seu conselheiro nessa empreitada.
Novos amigos e a vida social ativa, envolve todos num conflito de gerações, onde tabus são colocados a prova em cada diálogo e a retórica é parte integrante em todo o decorrer da peça.
Relevância
A peça traz a luz temas que iniciavam seus debates nos anos 50 e que até hoje ainda são considerados tabus perante a sociedade. Embora atualmente, encontrem-se um tanto quanto menos barreiras, a visão social conservadora de mundo ainda dita as regras e o diferente é olhado com estranhamento, sendo rotulado e colocado a margem social.
Em Irene o conservadorismo é representado na personagem, Deolinda; uma avó que se vê aflita diante da necessidade de educar uma neta recém-saída do colégio de freiras, neta essa que ela pouco teve contato, por conta de acontecimentos referentes a sua filha, mãe falecida de Irene.
Deolinda que toda a vida teve uma educação referendada nos costumes do fim do século XIX e início do XX, se vê perdida diante das dúvidas e questões levantadas por sua neta, principalmente no que se refere a sexualidade e chama em seu auxilio o nostálgico amigo Rocha, funcionário público aposentado que embora também se intitule um conservador, observa a nova geração tentando não apenas entende-la como principalmente aceita-la em suas descobertas e vivências.
O progressismo está representado nos jovens, Alonso e Margô que com uma boa dose de cinismo e afetação levam ao público um ideal de juventude que busca uma ruptura com o antigo, através do empírico em seu viver.
Irene e Gentil, são a mais pura representação da juventude que se vê desorientada diante da grandiosa nuvem de possibilidades que se apresenta diante de si; flutuando entre atender as ordens conservadoras de Deolinda e se entregar aos despertares, embora que divagantes, propostos por Alonso e Margô.
Ainda que a dialética entre costumes conservadores e a ruptura da juventude seja o tema central da trama, encontramos também em Irene questões como abuso sexual e moral sofridos por personagens femininos como Margô e Tereza (Mãe falecida de Irene); a forte demonstração de poder do patriarcado em personagens como Jerônimo, marido falecido de Deolinda que mesmo que não esteja presente, demonstra grande influência em todas as atitudes da viúva; a misoginia escancarada e o bullying para com Gentil nas atitudes de Alonso são temas recorrentes dentro da peça.
Mesmo sendo escrita há mais de meio século, Irene traz temas ainda intrincados na atual sociedade, colocando-a frente a si mesma a um nível de observação do ideal de evolução do ser coletivo e suas relações. A todo o tempo a exegese e a epistemologia dessa grande obra se faz necessária, a fim de que o método dialógico esteja sempre presente e a sociedade demonstre a capacidade de confrontar a si mesma diante do arcaico e do contemporâneo.
Diferencial
Pedro Bloch, autor de Irene; foi um dos mais reconhecidos dramaturgos brasileiros do século XX. Autor também de outras grandes obras como “As Mãos de Eurídice” e “Dona Xepa” (obra que ganhou versões na TV e no cinema). Os trabalhos do dramaturgo foram apresentados em mais de quarenta e cinco países diferentes entre os anos 50 e 60, mostrando assim a genialidade notória de seus escritos.
Hoje, os trabalhos de Pedro Bloch têm tido muito menos espaço do que outrora, talvez por olhares que reduzam a obra blochiana a questões datadas, mas um olhar mais aprofundado nessa dramaturgia, deixa claro a inegável potência criativa de Pedro e sua capacidade de contar histórias cotidianas com temas de vanguarda.
Em Irene debate-se assuntos complexos que ainda no dia de hoje se mostram presentes na sociedade, em seus costumes e senso de moralidade. Com linguagem e contextos alegóricos, a peça coloca frente a frente duas distintas gerações e seus modos de observar o mundo. O impacto desse debate, abre feridas existenciais e histórico sociais em cada personagem, expandindo o olhar do todo em cada um. Provando que Irene tem a capacidade, ainda hoje de dialogar completa e diversamente com as várias gerações que se dispõem a apreciar essa grande obra brasileira; que por meio de seus personagens icônicos, esfacela a hipocrisia do convívio social, facultando o devir de maneira generosa aos seus espectadores.
Na atual conjuntura do cenário político social brasileiro, Irene, através de sua alegoria e metáforas afiadas, apresenta ao público as máscaras sociais tradicionais, a hipocrisia latente, a dicotomia política na divisão dos poderes, entre outros assuntos contemporâneos. Colocando assim toda uma sociedade a observar com estranhamento suas próprias atitudes no ontem e os capacitando a traçar um paralelo no hoje.
Objetivos Específicos:
Criar cada vez mais adeptos ao teatro;
Oferecer a oportunidade do conhecimento de antigos costumes entre personalidades distintas;
Sensibilizar quanto ao questionamento;
Apresentar um debate dialógico entre gerações;
Contribuir de forma positiva para o engajamento de novos “fazedores da arte teatral”;